terça-feira, 20 de abril de 2010

Atraio loucos - história antiga

Um tempo, andei desesperada atrás do Semiótica das Paixões, do Greimas.
(Por sinal, nunca encontrei, desisti e nunca li).
Fato é que vasculhei todos os sebos reais e virtuais, as bibliotecas de Fortaleza, e achei o tal livro numa comunidade do Orkut. Eu havia deixado um breve anúncio, perguntando se alguém tinha o livro, quando um cidadão, aparentemente de boa vontade, respondeu em bom português que tinha a obra e seria um prazer me arranjar uma xerox, e que eu deixasse meu MSN pra ele pegar endereço de postagem e outros detalhes.

Daí, claro, que o cara era louco. Porque quem pede o MSN merece o nosso preconceito. Mas estamos lidando aqui com uma versão "menos pior" de Érika. Vinte anos recém-completos, inocente, pura E BESTA.

A conversa abaixo está do jeito que eu me lembro, e vocês têm que CONFIAR em mim. Que o cara realmente era doido desse tanto. Não façam como o meu próprio namorado, que levou uns três anos pra parar de duvidar do fato de que eu sou um ímã pra gente fora de si.

O cidadão - Oi, moça. **_
Eu, que nunca curti smileys mas queria demais o livro - Boa noite. Muito obrigada pela ajuda. Como podemos acertar o envio da obra?
O cidadão - Que obra? **P
Eu, na merda - Semiótica das Paixões, de Greimas. Você havia informado que poderia enviar...
O cidadão - Sim, mas vamos conversar! OO_

Já disse que curto smileys retardados que não acrescentam nada a uma conversa, né?

Eu, na merda - Pois é. Você poderia enviar a obra e nós discutiríamos o tema.
O cidadão - Vamos discutir agora.
Eu - Mas eu não conheço a obra de Greimas.
O cidadão - Mas conhece PAIXÕES.

#Hein#

Eu, ainda com um fio de esperança de conseguir a *porra* do livro - É assunto de um trabalho da faculdade.
O cidadão - Mas você já amou, de verdade?
Eu - Sim, meu namorado está aqui, participando da conversa.
O cidadão - Vi no seu Orkut que você é nordestina de Fortaleza. É esquentada.

#E também sou sofrida, fugida da seca do agreste, porém cheia de sensualidade trabalhada na chita e alegria de viver, gabrieeeela. Meu OUvo#

Eu - Você tem o livro?
O cidadão - Quantos aninhos você tem?
Eu - Vinte. Meu senhor, isso é sério. Eu preciso desse livro.
O cidadão - Já está na idade de saber o que é uma paixão. Vamos falar de paixões.
Eu - Meu senhor, pegue esse livro véi e enfie no seu cu. Boa noite.

Moral da história -

1) O Orkut não foi feito para favorecer um saudável intercâmbio de ideias entre pessoas do mundo todo. Pra isso, você trabalha nove horas por dia e estuda de madrugada até se lascar e aí entra num programa de pós-graduação, onde é provável que se verifique, com alguma sorte, algum nível de interação intelectual que não seja embotado pela fumacinha de vaidade que as pessoas expiram.
2) Desconhecidos que pedem o MSN sempre são tarados e estarão sempre batendo uma punheta no momento em que tiver início o saudável intercâmbio de ideias. Não importa a idade, o sexo ou nível de escolaridade deles.
3) Sim, minha bibliofilia tem limite. É esse limite aí mesmo.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Outro post desabafativo e deprê.


Aí foi quando eu conheci as leituras. No começo era um livrinho ou outro, de leve. Aí que eu fui conhecendo as resenhas, partindo pra umas leituras mais pesadas, e cada vez me afundando mais. Eu cheguei a ler e fichar 600 páginas em uma semana.

Daí minha mãe começou a perceber que faltava prateleira, e começou a sumir coisas de casa...
Eu chegava na biblioteca uma da tarde e ia embora só quando fechava.
E cada vez mais eu frequentava livrarias. Andava a pé ou de ônibus, comia no Restaurante Universitário, pra economizar e gastar nas livrarias. Começou com a Livraria Cultura, até que um dia eu me vi fuçando no sebo mais hardcore da cidade, pechinchando matriz usada na xerox do Centro de Humanidades.

E fui me envolvendo com umas companhias. As companhias também influenciam muito, cês sabem. Onde eu chegava, me ofereciam um material diferente. Conhece Simmel, esse, aquele?...
Aí, meu irmãozinho, foi quando eu cheguei no fundo do poço.
Se sobravam dois reais, eu comprava um BisCoito com Champanhe do Walter Di Lácio.
Eu já não cuidava de mim, não ia mais à manutenção das sobrancelhas... Não alimentava meu blog.

Foi um período muito difícil da minha vida, que durou praticamente todo o primeiro bimestre do mestrado.

Ainda hoje dói dentro do meu ser, e tal.
Mas foi o amor da minha mãe que me libertou.
Minha mãe que disse "filha, eu te amo, mas a casa é minha, mando eu, se manque, que não tô afim de morar na biblioteca municipal".

Aí eu segurei a minha onda, porque enfim, né. Esse mês eu não compro mais nenhum livro.