sexta-feira, 13 de março de 2009

No DVD do meu carro, uma canção...




O ônibus não é essencialmente ruim. Ônibus, na janela e sem lotação, sem estômago cheio e com um bom livro da letra razoavelmente grande, é melhor, muito melhor, que qualquer táxi.
Já li livros inteiros no ônibus, ao longo de várias viagens, sem contar a importância do gosto musical do meu amigo motorista para a formação da minha personalidade tolerante para com o próximo.


Por outro lado, querida leitora, um táxi levemente azarado sempre vai ser pior que o pior ônibus, aquele que você pegou meio-dia de bucho cheio debaixo do sol e teve que ficar muito, muito atenta, e dar umas cotoveladas e bolsadas preventivas, para não levar pinadas indesejadas.


Porque no táxi, você é obrigada a tolerar o outro num nível além, muito além, do que eu mereço. É um constrangimento, o cara tá no carro dele, eu nunca sei se seria indelicado pedir pelo amor de Deus para PELO MENOS baixar o volume do DVD do Bruno e Morrone, ou pelo menos parar de cantar junto, ou, minimamente, maneirar no vibrato e no falsete. E isso é o tipo de dilema que você não resolve lendo o manual de etiqueta da Glória Khalil. Porque eu aposto que aquela felá da mãe já deve ter o carro dela, né, e não tem medo de dirigir, e nem liga para quem é pobre e triste, muito triste.

Mas não foi isso que eu vim desabafar.

Acontece que voltei do trabalho tarde (sexta 13 feelings, ABS VF), não quis pegar ônibus, e o taxista tinha uma amante.

Ele também tinha o DVD no carro, e tocava Bruno e Marrone, e cantava junto, com falsete alternado com voz grossa do Marrone e vibrato. Mas isso nem me constrange mais, sabe, taxista gosta mesmo de DVD no carro, viva e deixe viver0. Agora "amante", cara, é realmente uma novidade.

E AGORA, GLORINHA KHALIL, queria ver tu sair dessa, cabocla!


Daí que eu dei um flagra no taxista e ele ficou super constrangido:

ATTENTION: "T" IS FOR TAXMAN, "A.I." IS FOR "AMANTE INSISTENTE".
T: Alô, (voz alta) amôzim (voz baixa)
A.I.: mimimimmimi (zuada da mulher perguntando alguma coisa)
T: Agora não dá
A.I.: mimimimmimim (os gritinhos da mulher indignada cobrando atenção)
T: Depois (voz alta), amozim (voz baixa).
A.I.: mimi
T: Tô com passageiro (cortando o assunto).
A.I.: mimimimimi
T: Hoje não pode.
A.I.: mimimimimi (a indiscreta da amante indignada e cobrando atenção)
OBSERVE ESSE MOMENTO DA HISTÓRIA, EM QUE O TAXISTA MUDA DE TÁTICA:
- "No".
- mimimi.
- Yes, Yes.
- mimimimimimimmimimimmimmimimimimimimimimmimimimimimimimimimimim.
- No!

SACOU, BLÓDER? Vamos falar em outro idioma!
Será muito mais discreto se a gente se combinar pra mais tarde in english, na base do YES/NO, que ninguém sabe o que é, né?

Eu juro, que nos meus 25 anos de para-raio de doido, no meu treinamento ninja pra não rir no momento em que se dá a marmota e na cara do doido em questão, nada me preparou pra isso. Glorinha Khalil, nem te conto... eu simulei a chamada tosse, muita tosse, pra disfarçar o acesso de riso iminente. A continuar assim, tô fudida, nunca freqüentarei as altas rodas. Não vai ser contraindo matrimônio que entrarei para uma família rica, como se vê.

E, por falar em etiqueta, teve a auxiliar de um antigo emprego meu, gente muito boa, desculpaí, mas eu vou ter que frescar.

Enfim, na hora do almoço, em um bistrô charmosinho que costumávamos freqüentar pra variar o cardápio no fim do mês (3,50 o prato-feito para duas pessoas, com direito a duas frutas e uma mariola – fim de mês), a colega pega a coxinha de frango com a mão e diz:

- Povo burro, só querem comerem tudo com garfo e faca. Tu sabia, que isso é ignorância, que na palestra que eu fui o homem deu exemplo que era antiético. É até antiético comer a coxa e a asa com o garfo e faca. E o pé, e o pescoço, pior.

Sem mais para o momento, subscrevo-me.


Atenciosamente,

quarta-feira, 11 de março de 2009

Atóron perígon do cabelo curto

Esse negócio de cortar os cabelos cada vez mais curtos é um vício, uma compulsão que tem que ser combatida com banhos frios e eletroconvulsoterapia. Mas eu não fumo, não bebo, e eu tinha que ter algum vício, né, além de maquiagem, livros, internet, beatles, ricota, bolsas de pano, fazer mini-barraco, falar palavrão e cutucar casquinha.

O fato é que, normalmente, eu vou ao salão acompanhar alguém e volto com o cabelo sempre mais curto, por impulso. (O cabeleireiro, por sinal, é também escritor, e está lançando o segundo livro amanhã, no Shopping Benfica. PP Joel. Bons livros, história de vida interessante, bom corte de cabelo. #Ficadica). Daí que estou com um plano de manter um fotolog teenage, daqueles em que se faz bico e se bate cabélon, pra ver se as almas caridosas me avisam quando o joãozinho estiver perigosamente rondando a minha cabeça. Vocês me ajudariam?

Na foto, a fashion designer Mary Quant, aparando as pontas antes de inventar a minissaia.


Juro que só me falta, num dia de impulsividade, pedir um corte joãozinho, aquele do estereótipo jornalista-glamour. Moça da TV, do cabelo curto - aquela noção que muitas jovenzinhas incautas têm ao entrar na faculdade e que nossas tias terão até nossa morte:
que jornalista usa Lancome, vai pra padaria de tailleur e microfone de lapela e tem o cabelo joãozinho. Desculpaí se eu estiver desiludindo alguma jovem vestibulanda, mas
não é sempre assim.


- William, quero ser jornalista de sucesso, #comofas?
William says: atóron jornalismo.


O parágrafo seguinte é dispensável, quem não gosta de gente prolixa pode pular pro outro.---------------------->


O PARÁGRAFO DISPENSÁVEL: Um dia farei a situação ficar pior contando aqui sobre a reportagem em que fui ameaçada de morte, e sobre o delicioso mês que passei subindo nos ônibus com medo de que alguém estivesse me seguindo pra fazer presunto de erikinha. E sobre as eventuais coberturas e matérias cotidianas em que os tailleurs teriam matado qualquer um,
no calor sené, sené, senegal de Fortaleza. Ah, e sobre aquela em que me joguei debaixo de uma mesa porque teve um pequeno TIROTEIO quando comecei a conversar com a entrevistada. Ok, não precisa ter tanto medo assim da profissão. As reportagens mais pauleira que eu já peguei, admito, foram opção minha e, antes que Grace Kelly comente dizendo que eu "atóron o perigón do jornalismo", explico que, por opção, eu não faria nada de novo. A explicação do Dr. House para a fase de extrema coragem de há 6 anos atrás existe, mas não é lupus. It's never lupus.
De qualquer modo, os trabalhos estão aí, gostei do aprendizado. Pra quem não entendeu nada, dou uma colher de chá: joga no You Tube Grace Kelly e Atoaron Perigon. Fim da digressão.

retome a leitura daqui ------------------------------------------------------------->

Enfim, tudo isso pra dizer que jornalismo NÃO é glamour. NÃO é cool. NÃO é pop. A bem da verdade, na minha humilde opinião, o Jornalismo, com J maiúsculo, é o contrário do pop, é o legítimo roquenrou. (Tá ouvindo o Satisfaction tocando em background, né) .


Nada contra, mas não tomo como exemplo uma Sandra Annenberg da vida, ou a persona que ela incorpora na hora do almoço. Fofa, simpática, moça do jornal da hora sagrada da refeição, dando dica sobre a importância de tomar muita, muita água.

(Dia desses, Sandra Annenberg apresentou uma matéria super relevante, de utilidade pública mesmo, sobre como pendurar quadros em casa. Vocês sabiam que, se errar o local do buraco e não houver massa corrida para consertar, um pouco de pasta de dentes branca disfarça o furo super bem? Eu podia ter almoçado sem essa, mas nesse dia assisti ao Jornal do Meio Dia. Só faltou ela concluir dizendo "Evaristo, sabe o que é um FUIO? É um buiaco na paiede!!!").

Enfim, Sandrinha é de um serelepismo, né, Sandrinha é alegria de viver! Enfim, nada contra, mas não me inspira, sabe?

Na verdade, meus planos de dominação do mundo nada têm de muito mirabolante.
Quero apenas ser feliz, e viver honestamente da minha profissão, tendo reservas para emergências, como o possível impulso do corte joãozinho#fail, situação em que terei que viajar ao encontro da bee que faz o mega hair da Beyoncé.

Até atingir esse plateau de realização, estarei em Fortaleza, sendo feliz, com o cabelo curto novo tomando jeito aos poucos, olhando para a boina cubana do namorado e pensando em como ela pode me socorrer nos eventuais bad hair days.